Imprimir

Print Friendly and PDF

QUAL A DATA DE HOJE?

Seja bem-vindo. Hoje é

GRATO PELA VISITA

27 de novembro de 2013

CONTRA OS DIREITOS DOS HOMOSSEXUAIS

Por Richard M. Ryan e S. William Ryan

Richard M. Ryan é professor de psicologia, psiquiatria e educação da Universidade de Rochester. William S. Ryan é estudante de doutorado em psicologia na Universidade da Califórnia, Santa Barbara.

Publicado em 27 abril de 2012 no "The New York Times".

Por que são as figuras políticas e religiosas que fazem campanha contra os direitos dos homossexuais muitas vezes as mais envolvidas em escândalos sexuais com parceiros do mesmo sexo?

Nos últimos anos, Ted Haggard, um líder evangélico que pregava que a homossexualidade é um pecado, pediu demissão após o escândalo envolvendo um ex-garoto de programa; Larry Craig, senador dos Estados Unidos que se opôs à inclusão da homofobia nas leis de crimes de ódio, foi preso sob suspeita de conduta lasciva em um banheiro masculino; e Glenn Murphy Jr., um dos líderes do 'Young Republican National Convention' e oponente do casamento gay, se declarou culpado de abuso sexual na acusação promovida por outro homem.

Há uma teoria que diz que desejos homossexuais reprimidos por vergonha ou medo podem ser manifestados através da homofobia. Freud notoriamente chamou esse processo de "formação reativa" - a batalha da raiva contra a externação dos sentimentos que são interiormente sufocados. Mesmo Haggard pareceu endossar essa ideia quando, ao se desculpar após o escândalo por sua retórica antigay, ele disse: "Acho que parte disso se deve a minha própria guerra."

É uma teoria convincente - e agora há razão científica para acreditar nela. Na edição de abril de 2012 do Jornal da Personalidade e Psicologia Social [Journal of Personality and Social Psychology], pesquisadores forneceram evidências empíricas de que a homofobia pode resultar, pelo menos em parte, da repressão do desejo pelo mesmo sexo.

O trabalho descreve seis estudos realizados nos Estados Unidos e na Alemanha envolvendo 784 estudantes universitários. Os participantes classificaram sua orientação sexual numa escala de zero a dez pontos entre gay e hétero. Em seguida, eles passaram por um teste monitorado por computador, projetados para medir a orientação sexual 'implícita'. Aos participantes foram mostradas imagens e palavras indicativas do status "hetero" e "gay" (fotos de casais heterossexuais e do mesmo sexo, palavras como "homossexual" e "gay") e foram instados a ordená-las na categoria apropriada ("gay" ou "hétero"), o mais rápido possível. O computador media o tempo de reação de cada um.

Antes de cada palavra e imagem aparecer, a palavra "eu" ou "outro" piscava na tela por 35 milésimos de segundo - o bastante para que os participantes subliminarmente as processassem, mas um tempo suficientemente curto para que não pudessem vê-las conscientemente. A teoria, conhecida como associação semântica, explica que o tempo que se leva para correlacionar palavras às imagens é indicativo da orientação sexual 'implícita'. Ou seja, quando "eu" antecede palavras ou imagens que refletem a orientação sexual do sujeito (por exemplo, imagens heterossexuais para uma pessoa hétero), ele classifica as imagens/palavras na categoria correta num espaço de tempo mais curto. De modo contrário, quando "eu” precede palavras/imagens incongruentes com a sua orientação sexual (por exemplo, imagens gays para uma pessoa hétero), o indivíduo tende a demorar mais. Esta técnica, adaptada de testes utilizados para avaliar atitudes preconceituosas como a discriminação racial subconsciente, de forma confiável distingue as pessoas que se autoidentificam héteros e gays, lésbicas ou bissexuais.

Ao usar essa metodologia, fomos capazes de reconhecer um subgrupo de participantes que, apesar de se autoidentificar altamente hétero, indicou algum nível de atração por pessoas do mesmo sexo - eles associaram "eu" a palavras e imagens gays mais rápido do que associaram "eu" a palavras/imagens heterossexuais. Mais de 20 por cento dos estudantes que se descreveram altamente héteros mostraram essa discrepância.

Curiosamente, esses participantes "divergentes" também se mostraram significativamente mais propensos e favoráveis a políticas antigays que os demais; dispostos a atribuir punições mais severas para crimes menores se os autores forem homossexuais e a expressar mais hostilidade implícita aos gays. A pesquisa, enfim, sugere que algumas das pessoas que se opõem à homossexualidade tacitamente abrigam em si uma atração pelo mesmo sexo.

O que leva a essa repressão? Descobrimos que os participantes que relataram ter apoio e aceitação dos pais tinham mais contato com sua orientação sexual implícita e estavam menos suscetíveis à homofobia. Indivíduos cuja identidade sexual estava em desacordo com a atração sexual implícita, eram mais frequentemente criados por pais controladores, menos tolerantes e mais preconceituosos contra os homossexuais.

É importante ressaltar o óbvio: nem todos os que fazem campanha contra gays e lésbicas sentem secretamente atração pelo mesmo sexo. Mas é provável que algumas dessas pessoas lutem contra uma parte de si, sendo elas próprias vítimas da opressão e da intolerância. O preço é alto, não só para aqueles que são alvo dos esforços discriminatórios, mas, muitas vezes também, para os autores. Faz bem lembrar que todos os envolvidos merecem a nossa compaixão.

Postado por Edinêr