NÃO MINTA: VOCÊ NÃO AMA O PRÓXIMO
Publicado:
22/07/2011 em Amor, Amor ao próximo, Espiritualidade, Igreja dos nossos dias,
Igreja Emergente, Pecado.
Cheguei a
uma conclusão: eu não amo o próximo. Pior: você também não. A gente pode até
tentar, mas não ama. E eu provo. Mas, para isso, precisamos entender antes de
qualquer coisa que estou usando aqui o conceito de “amor” da Bíblia e não o da
sociedade secular e romantizada em que vivemos (para um aprofundamento sobre
isso você pode ler se desejar o artigo Heresias em nome do amor). E como um dos
conceitos hermenêuticos elementares no estudo das Escrituras é que “a Bíblia
explica a si mesma”, vamos ao texto sagrado desencavar qual é o conceito
bíblico de “amar”. O versículo epicêntrico da Bíblia sobre o assunto é o bom e
velho João 3.16:
“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o
seu Filho Unigênito para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida
eterna”.
Vamos então destrinchá-lo.
Primeiro:
Deus amou o mundo. E quem é o mundo? São absolutamente todas as pessoas que o
rejeitaram, desobedeceram que foram seus inimigos, que lhe viraram as costas.
Ou seja: todo aquele que peca. Ou seja: todo mundo!
“Todos
pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Romanos 3.23).
Então o que João 3.16 nos mostra, primeiro, é que Deus amou pessoas que o desprezaram
que lhe fizeram mal, que falaram mal dele, que roubaram dele, o caluniaram e
fizeram todo tipo de desgraça contra Ele.
Aí, de
repente, Deus decide fazer por esse grupo de bilhões e bilhões de pessoas algo impressionante:
abre mão de sua posição confortabilíssima para ajudar cada um. Se você prestar
atenção, verá que o Filho estava muito bem, obrigado, em sua glória celestial e
não precisava ter mexido uma palha por essas pessoas. Mas Ele foi além: “Seja a
atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus não considerasse
que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si
mesmo, vindo a ser servo tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado
em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de
cruz” (Filipenses 2.5-8).
Em outras
palavras: o
amor abre mão do seu conforto para ajudar outras pessoas.
E isso para
quê? “Para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. A
questão aqui é que aquele bando de miseráveis não merecia a vida eterna.
Mereciam, em português bem claro, arder por toda a eternidade no fogo do
inferno. Mas Deus chega e mostra outro aspecto do amor: dá a eles algo que não
merecem. E aqui nos deparamos com as cinco letras mais lindas do Evangelho: GRAÇA. Pois isso é a essência da
graça: AMOR.
Qual é a
conclusão a que chegamos a partir disso tudo?
Que AMAR significa abrir mão do seu conforto para fazer coisas boas por
quem te fez coisas ruins. Simples assim.
E… você faz isso?
Para
responder nós temos que aplicar o que dissemos acima a sua (e à minha) vida:
Pense em todas as pessoas que te desprezaram, fizeram mal, te viraram o rosto,
falaram mal de você, te roubaram, te caluniaram e fizeram todo tipo de desgraça
contra você. Não tem pressa. Esqueça que você está na Internet e que aqui todo
mundo só quer ler coisas rapidinho. Invista tempo, vai valer a pena.
Pare.
Tire um tempo.
Pense em
rostos. Lembre-se de nomes. Recorde-se de situações. Gente que te fez chorar,
que te ofendeu que te acusou injustamente. Que te molestou sexualmente. Que
roubou seu dinheiro. Que mentiu para todo mundo a seu respeito. Que armou
esquemas para te prejudicar e puxar o tapete. Que fez tudo o que há de pior
contra você. Pense. E, só depois de ter se lembrado de todas essas pessoas
continue a ler, não tenho pressa alguma.
Ainda tem
tempo. Pense mais um pouco. Gente que te magoou feio. Você vai lembrar.
Ok. Agora
que você já deu nome e rosto aos bois, segundo passo: Deus saiu de seu conforto
e fez algo de bom por elas que certamente elas NÃO
mereciam. E eu, então, te pergunto: o que você já fez de bom por essas
pessoas de quem acabou de se lembrar? Pode pensar. Mais um tempo pra ti.
Atrevo-me a
dizer que você gastou muito tempo chorando pelo que elas te fizeram, as
denunciando, ou então metendo o malho nelas para outras pessoas, falando ao
maior número possível de pessoas o que elas lhe fizeram. E até mesmo se
vingando, pagando na mesma moeda. As odiando com todas as suas entranhas! Eu
garanto que você fez isso. E sabe por quê? Porque é o que eu fiz. Muitas vezes.
Paguei mal com mal. Paguei com vingança. Com comentários depreciativos. Com
minha natureza humana.
Chegamos
então à questão inicial. Você ama o seu próximo? Pois já vimos que AMAR significa abrir mão do seu conforto para fazer
coisas boas por quem te fez coisas ruins. Simples assim. Mas meu irmão, minha
irmã, concorde comigo que nós não fazemos isso.
Não fazemos.
E com isso,
simplesmente descumprimos o mandamento maior da fé cristã: “Mestre,
qual é o maior mandamento da Lei? ’ Respondeu Jesus: ‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu
coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’. Este é o primeiro e
maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: ‘Ame o seu próximo como a si
mesmo’. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas”. (Mateus 22.36-40)
Aí você pode
até dizer: “Ah, mas Jesus era Deus, pra Deus é fácil amar assim! Eu sou só um
humano!”. Ao que Jesus de Nazaré te responde: “Um
novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei vocês devem
amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos,
se vocês se amarem uns aos outros”. (João 13.34-35)
ÚLTIMAS PALAVRAS
Não tem
jeito. Eu não amo meu próximo segundo o modelo bíblico, fato. Pois não abro mão
de meu conforto, de meu tempo, de dizer que tenho razão, de meu orgulho… para
fazer o bem a quem me detonou. E, afirmo sem medo de errar: você também não.
Pois eu olho em volta e é o que vejo, nas igrejas, no twitter, no Facebook, nos
programas evangélicos de TV, nas pregações de pastores anti-igreja da internet,
na Igreja Emergente… em todo lugar onde haja um coração manchado pelo pecado,
em todo lugar onde haja alguém que se chame cristão: nós somos vingativos,
ofendemos, pagamos na mesma moeda. Não fazemos o bem a quem nos faz mal. Não
fazemos! Isso é um fato!
Ignoramos solenemente o que Paulo diz em
Romanos 12.14-20:
Abençoai aos que vos perseguem, abençoai, e
não amaldiçoeis. Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram;
Sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às
humildes; não sejais sábios em vós mesmos; A ninguém torneis mal por mal;
procurai as coisas honestas, perante todos os homens. Se for possível, quanto
estiver em vós, tende paz com todos os homens. Não vos vingueis a vós mesmos,
amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu
recompensarei, diz o Senhor. Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de
comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas
de fogo sobre a sua cabeça.
Você já deu de comer ou de beber a
quem te fez mal? Quantas vezes?
A BOA NOTÍCIA
Mas há uma boa notícia: é possível.
É possível viver o mandamento maior. Comece preferindo o outro em
honra. Pondo em prática Filipenses 2.3 - Nada
façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os
outros superiores a si mesmo.
Mas, irmão,
como se faz isso?
Não revide,
abençoe. Não rebata, dê a outra face. Não se vingue, caminhe a segunda milha.
Não fale pelas costas, elogie o que há de bom em quem só há coisa má. Só
consegue amar o próximo da forma que Cristo espera quem faz o que Ele fez
diante de Pilatos: engole sapos. Cala-se. Submete-se. Humilha-se. É difícil?
LÓGICO QUE É! E desde quando alguém disse que seria fácil? Jesus disse:
“Se
alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e
siga-me” (Lc 9.23).
E você acha que carregar uma cruz é fácil?
Em outras
palavras, só ama verdadeiramente o próximo quem contraria sua natureza. Pois só
quando você contrariar a sua natureza e injetar em suas veias a natureza de
Cristo é que você começará a amar o próximo como a Bíblia ensina. Até lá… somos
bons fingidores.
Paz a todos
vocês que estão em Cristo.
Maurício
Zágari