01 - Jesus disse:
“Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!” Seus
discípulos ficaram espantados, tão quantos ficariam frente ao “Movimento da
Prosperidade”. Então Jesus elevou ainda mais o espanto deles, dizendo: “É mais
fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino
de Deus.” Eles responderam em descrença: “Então, quem pode ser salvo?” Jesus
disse, “Para os homens é impossível; contudo, não para Deus, porque para Deus
tudo é possível.” (Marcos 10:23-27).
Isso significa que o espanto dos discípulos tinha fundamento. Um camelo
não pode passar pelo fundo de uma agulha. Isso não é uma metáfora para algo que
requer muito esforço ou humilde sacrifício. Não dá para ser feito. Sabemos
disso porque Jesus disse Impossível! Foi à palavra Dele, não a nossa. “Para os
homens, é impossível.” O ponto é que a mudança de coração exigida é algo que o
homem não pode fazer por si mesmo. Deus precisa fazê-lo — “… contudo, não [é
impossível] para Deus.”
Não conseguimos nos fazer parar de
valorizar o dinheiro acima de Cristo. Mas Deus pode. Isso são boas novas. E
isso deveria ser parte da mensagem que os pregadores da prosperidade anunciam
antes que incitem as pessoas a se tornarem mais como um camelo. Por que um
pregador iria querer anunciar um evangelho que encoraja o desejo de ser rico, confirmando
deste modo as pessoas em seu desajuste ao reino de Deus?
02 - O apóstolo Paulo admoestou
contra o desejo de ser rico. E por implicação, advertiu contra pregadores que
incitam o desejo de ser rico ao invés de ajudar as pessoas a se livrarem disso.
Ele alertou: “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em
muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na
ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns,
nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas
dores.” (1Timóteo 6:9-10).
Essas são
palavras muito sérias, mas não parecem encontrar um eco na pregação do
evangelho da prosperidade. Não é errado para o pobre querer medidas de
prosperidade para que tenha o que precisa, e possa ser generoso e dedicar tempo
e energia a tarefas que exaltem a Cristo em vez de lutar para sobreviver. Não é
errado buscar ajuda em Cristo para isso. Ele se importa com nossas necessidades
(Mateus 6:33).
Mas todos nós — pobres e ricos — estamos em constante perigo
de firmar nosso amor (1João 2:15-16) e nossa esperança (1Timóteo 6:17) nas
riquezas ao invés de em Cristo.
Esse “desejo de ser
rico” é tão forte e tão suicida que Paulo usa a linguagem mais forte para nos
alertar. Minha súplica é para que os pregadores da prosperidade façam o mesmo.
03 - Jesus
adverte contra o esforço para acumular tesouros na terra; ou seja, Ele nos
manda ser donatários, e não proprietários. “Não acumuleis para vós outros
tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões
escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem
ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam” (Mateus 6:19-20).
Sim, todos nós guardamos alguma coisa. Jesus admite isso.
Ele não espera, exceto em casos extremos, que nosso desejo de ofertar
signifique que não seremos mais capazes de dar. Haverá um tempo em que daremos
nossa vida por alguém, e então não seremos mais capazes de ofertar. Mas
ordinariamente, Jesus espera que vivamos de tal forma que haja um padrão
contínuo de trabalho, ganho, vida simples e doação contínua.
Mas dada a tendência
intrínseca à ganância em todos nós, Jesus sente a necessidade de advertir contra
“acumular tesouros na terra”. Isso se assemelha a ganho, mas leva apenas à
perda (“traça e ferrugens corroem e ladrões escavam e roubam”). Meu apelo é que
a advertência de Jesus encontre um forte eco nas bocas dos pregadores da
prosperidade.
04 - “Aquele que furtava não
furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que
tenha com que acudir ao necessitado.” (Efésios 4:28). Isso não é uma
justificativa para ser rico de modo que possa dar mais. É um chamado para fazer
mais e guardar menos, e então você poderá dar mais. Não há razão para que uma
pessoa que prospera mais e mais em seus negócios deva ampliar a extravagância
de seu estilo de vida indefinidamente. Paulo diria: Cubra suas despesas e doe o
resto.
Não posso
determinar o seu “cobrir”, mas em todos os textos que temos visto nesta série,
há um impulso em direção à simplicidade e à generosidade extravagante, não a
posses extravagantes. Quando Jesus disse: “Vendei os vossos bens e dai esmola”
(Lucas 12:33), Ele pareceu sugerir não que os discípulos fossem abastados e
pudessem dar de sua abundância. Parece que eles tinham tão pouco patrimônio
líquido, que tinham que vender algo para terem algo para dar.
Por que os pregadores iriam querer
encorajar as pessoas a pensarem que elas deveriam possuir riquezas para serem
donatários generosos? Por que não encorajá-los a manterem suas vidas mais
simples e serem ainda mais generosos em suas doações? Isso não acrescentaria em
sua generosidade um forte testemunho de que Cristo — e não as posses — é seu
tesouro?
05 - A razão pela qual o autor
de Hebreus nos diz para estarmos contentes com o que temos é que o oposto
implica em menos fé nas promessas de Deus. Ele diz: “Seja a vossa vida sem amor
ao dinheiro. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De
maneira alguma te deixarei nunca te abandonarei. Assim, afirmemos
confiantemente: O Senhor é o meu auxílio, não temerei; que me poderá fazer o
homem?” (Hebreus 13:5-6).Por um lado, podemos confiar no Senhor como nosso
auxílio. Ele proverá e protegerá. E nesse sentido, há certa medida de
prosperidade que Ele nos dará. “Vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas
elas” (Mateus 6:32). Mas, por outro lado, quando se diz: “Seja a vossa vida sem
amor ao dinheiro. Contentai-vos com as coisas que tendes”, pois Deus promete
nunca nos deixar, isso deve significar que podemos facilmente nos mover da
confiança em Deus para nossas necessidades, para o usar Deus para nossas
vontades.
A linha entre “Deus, me ajude” e “Deus, me
enriqueça” é real, e o autor de Hebreus não quer que a ultrapassemos. Os
pregadores deveriam ajudar seu povo a se lembrar e reconhecer essa linha ao
invés de falar como se ela não existisse.
06 - Jesus adverte que a Palavra
de Deus, o Evangelho, o qual tem por objetivo nos dar vida, pode ser sufocado
até a morte pelas riquezas. Ele diz que ele é como uma semente que cresce entre
espinhos: “São os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com…
riquezas… da vida; os seus frutos não chegam a amadurecer” (Lucas 8:14).
Os pregadores da prosperidade deveriam
advertir seus ouvintes de que há um tipo de prosperidade financeira que pode
sufocá-los até a morte. Por que quereríamos encorajar as pessoas a buscar
exatamente aquilo que Jesus adverte que pode nos deixar sem frutos?
07 - O que
há nos cristãos que faz deles o sal da terra e a luz do mundo? Não são as
riquezas. O desejo por riquezas e a busca de riquezas têm sabor e aparência do
mundo. Desejar ser rico nos torna como o mundo, não diferentes. Justo no ponto
onde deveríamos ter um sabor diferente, temos a mesma cobiça maliciosa que o
mundo tem. Neste caso, não oferecemos ao mundo nada diferente do que ele já
crê.
A grande tragédia da pregação da prosperidade é que uma
pessoa não tem que ser acordada espiritualmente para abraçá-la; ela precisa
apenas ser gananciosa. Ficar rico em nome de Jesus não é o sal da terra ou a
luz do mundo. Nisto, o mundo simplesmente vê um reflexo de si mesmo. E se eles
são “convertidos” a isso, eles não foram realmente convertidos, mas apenas
colocaram um novo nome numa vida velha.
O contexto na fala de Jesus nos mostra o que o sal e a luz
são. É a alegre boa vontade de sofrer por Cristo. Eis o que Jesus disse:
“Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem,
e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e
exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos
profetas que viveram antes de vós. Vós sois o sal da terra… Vós sois a luz do
mundo.” (Mateus 5:11-14)
O que fará o mundo saborear o sal e ver a luz de Cristo em
nós, não é que amemos as riquezas da mesma forma que eles amam. Pelo contrário,
será a boa vontade e a habilidade dos cristãos de amar aos outros em durante o
sofrimento, a todo tempo exultando porque seu galardão está nos céus com Jesus.
“Regozijai-vos e exultai [nas dificuldades]… Vós sois o sal da terra.” Salgado
é o sabor da alegria nas dificuldades. Esta é a vida inusitada que o mundo pode
saborear como diferente.
Tal vida é inexplicável
em termos humanos. É sobrenatural. Mas atrair pessoas com promessas de
prosperidade é simplesmente natural. Não é a mensagem de Jesus. Não é aquilo
que ele alcançou com sua morte.
08 - O que
falta na maioria das pregações da prosperidade é o fato de que o Novo
Testamento enfatiza a necessidade de sofrimento muito mais do que o conceito de
prosperidade material.
Jesus disse: “Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é
o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a
vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa” (João
15:20). E outra vez disse: “Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais
[difamam] aos seus domésticos?” (Mateus 10:25).
Paulo fez lembrar aos novos crentes em suas viagens
missionárias que “através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de
Deus” (Atos 14:22). E disse aos crentes em Roma que seu sofrimento daqueles era
uma parte necessária do caminho para a herança eterna.
“O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos
filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus
e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos
glorificados. Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo
presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Romanos
8:16-18).
Pedro também disse
que o sofrimento é o caminho natural para a bênção eterna de Deus.
“Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de
vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse
acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-participantes
dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos
alegreis exultando. Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados
sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus” (1 Pedro
4:12-14).
O sofrimento é o custo natural da piedade. “Ora, todos
quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2 Timóteo
3:12). Estou ciente de que estas palavras sobre o sofrimento se revezam entre
um sofrimento mais generalizado como parte da queda (Romanos 8:18-25) e um
sofrimento específico devido às hostilidades humanas. Mas argumentarei mais
tarde no capítulo 3 que quando isso se refere ao propósito de Deus, não há
diferença substancial.
Os pregadores da
prosperidade deveriam incluir em suas mensagens um ensino significativo sobre o
que Jesus e os apóstolos disseram a respeito da necessidade do sofrimento.
Importa que ele venha, Paulo disse (Atos 14:22), e prestamos um desserviço não
contando isso cedo aos jovens discípulos, causamos-lhes um prejuízo. Jesus disse
isso mesmo antes mesmo da conversão, para que os prováveis discípulos já
contassem com o custo: “Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a
tudo quanto tem não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:33).
09 - O
Novo Testamento não apenas deixa claro que o sofrimento é necessário para os
seguidores de Cristo, ele também se empenha em explicar o porquê e quais são os
propósitos de Deus nisso. É crucial que os crentes conheçam esses propósitos.
Deus os revelou para nos ajudar a entender porque sofremos e para nos passar
como ouro pelo fogo. Em Regozijem-se as Nações, no capítulo sobre o sofrimento,
eu revelo esses propósitos. Aqui eu apenas os enumerarei e direi aos pregadores
da prosperidade: Incluam os grandes ensinos bíblicos em suas mensagens.
Recém-convertidos precisam saber por que Deus ordena que eles sofram.
1. Sofrimento
aprofunda a fé e a santidade.
2. Sofrimento faz seu
cálice crescer.
3. Sofrimento é o
preço de encorajar os outros.
4. Sofrimento
preenche o que falta nas aflições de Cristo.
5. Sofrimento
fortifica o mandamento missionário do “ide”.
6. A supremacia de
Cristo é manifesta no sofrimento.
10 - Uma
mudança fundamental aconteceu com a vinda de Cristo ao mundo. Até aquele tempo,
Deus focou sua obra redentora em Israel com obras eventuais entre as nações.
Paulo disse: “Nas gerações passadas,
[Deus] permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos” (Atos
14:16). Ele os chamou de “tempos da ignorância.”
“Não levou Deus em
conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em
toda parte, se arrependam” (Atos 17:30).
Agora o foco passou de Israel para as nações. Jesus disse:
“O reino de Deus vos será tirado [Israel] e será entregue a um povo que lhe
produza os respectivos frutos [seguidores do Messias]” (Mateus 21:43). Um endurecimento
veio sobre Israel até que o número total das nações entrasse (Romanos 11:25).
Uma das principais diferenças entre essas duas épocas é que,
no Antigo Testamento, Deus glorificou amplamente a si mesmo ao abençoar Israel,
de modo que as nações pudessem ver e saber que o Senhor é Deus.
“Faça ele [o Senhor] justiça ao seu [...] povo de Israel,
segundo cada dia o exigir, para que todos os povos da terra saibam que o SENHOR
é Deus e que não há outro” (1Reis 8:59-60).
Israel não foi enviada como uma “Grande Comissão” para
ajuntar as nações; pelo contrário, ela foi glorificada para que as nações
vissem sua grandeza e viessem a ela. Então, quando Salomão construiu o templo
do Senhor, foi espetacularmente abundante em revestimentos de ouro.
O Santo dos Santos tinha vinte côvados de comprimento, vinte
côvados de largura e vinte côvados de altura. E foi coberto com ouro puro. Ele
também cobriu de ouro um altar de cedro. E Salomão revestiu o interior da casa
com ouro puro, e fez passar correntes de ouro frente ao Santo dos Santos, o
qual também cobriu de ouro. E cobriu de ouro toda a casa, inteiramente. Também
cobriu de ouro todo o altar que estava diante do Santo dos Santos. (1Reis
6:20-22)
E quando ele mobiliou o templo, o ouro mais uma vez se
tornou igualmente abundante.
Então Salomão fez todos os utensílios que estavam na casa do
Senhor: o altar de ouro, a mesa de ouro para os pães da proposição, os
castiçais de ouro finíssimo, cinco à direita e cinco no lado sul e cinco no
norte diante do Santo dos Santos; as flores, as lâmpadas e as linguetas, também
de ouro; as taças, espevitadeiras, bacias, recipientes para incenso e
braseiros, de ouro finíssimo; as dobradiças para as portas da casa interior e
do Santo dos Santos, também de ouro. (1Reis 7:48-50)
Salomão levou sete anos para construir a casa do Senhor. E
então levou treze anos para construir sua própria casa (1Reis 6:38 e 7:1). Ela
também era abundante em ouro e pedras de valor (1Reis 7:10).
Então, quando tudo estava construído, o nível de sua opulência
é visto em 1Reis 10, quando a rainha de Sabá, representando as nações gentias,
vai ver a glória da casa de Deus e de Salomão. Quando ela viu, “ficou como fora
de si” (1Reis 10:5). Ela disse: “Bendito seja o SENHOR, teu Deus, que se
agradou de ti para te colocar no trono de Israel; é porque o SENHOR ama a
Israel para sempre, que te constituiu rei” (1Reis 10:9).
Em outras palavras, o padrão no Antigo Testamento é uma
religião venha-ver. Há um centro geográfico do povo de Deus. Há um templo
físico, um rei terreno, um regime político, uma identidade étnica, um exército
para lutar as batalhas terrenas de Deus, e uma equipe de sacerdotes para fazer
sacrifícios animais pelos pecados.
Com a vinda de Cristo
tudo isso mudou. Não há centro geográfico para o Cristianismo (João 4:20-24);
Jesus substituiu o templo, os sacerdotes e os sacrifícios (João 2:19; Hebreus
9:25-26); não há regime político Cristão porque o reino de Cristo não é deste
mundo (João 18:36); e nós não lutamos batalhas terrenas com carruagens e cavalos
ou bombas e balas, mas sim batalhas espirituais com a palavra e o Espírito
(Efésios 6:12-18; 2Coríntios 10:3-5).
Tudo isso sustenta a grande mudança na missão. O Novo
Testamento não apresenta uma religião venha-ver, mas uma religião vá-anunciar.
“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no
céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a
guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos
os dias até à consumação do século” (Mateus 28:18-20).
As implicações disso são enormes para a forma que vivemos e
a forma que pensamos a respeito de dinheiro e estilo de vida. Uma das
implicações principais é que nós somos “peregrinos
e forasteiros” (1Pedro 2:11) na terra. Nós não usamos este mundo como se
ele fosse nosso lar de origem. “A nossa
pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus
Cristo” (Filipenses 3:20).
Isso leva a um estilo de vida em pé de guerra. Isso
significa que nós não acumulamos riquezas para mostrar ao mundo o quão rico
nosso Deus pode nos fazer. Nós trabalhamos duro e buscamos uma austeridade em
pé de guerra pela causa de espalhar o evangelho até os confins da terra. Nós
maximizamos o esforço de guerra, não os confortos de casa. Nós criamos nossos
filhos com a visão de ajudá-los a abraçar o sofrimento que irá custar para
finalizar a missão.
Então, se um pregador
da prosperidade me questiona sobre as promessas de riqueza para pessoas fiéis
no Antigo Testamento, minha resposta é: Leia seu Novo Testamento com cuidado e
veja se você encontra a mesma ênfase. Você não irá encontrar. E a razão é que
as coisas mudaram dramaticamente.
“Porque nada temos
trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com
que nos vestir, estejamos contentes” (1Timóteo 6:7-8). Por quê? Porque o
chamado a Cristo é um chamado para participar de seus sofrimentos “como um bom soldado de Cristo Jesus”
(2 Timóteo 2:3). A ênfase do Novo
Testamento não são as riquezas que nos atraem para o pecado, mas o sacrifício
que nos resgata dele.
Uma confirmação providencial de que Deus planejou esta
distinção entre uma orientação venha-ver no Antigo Testamento e uma orientação
vá-anunciar no Novo Testamento, é a diferença entre o idioma do Antigo
Testamento e o idioma do Novo. Hebraico, o idioma do Antigo Testamento, não era
compartilhado por nenhum outro povo no mundo antigo. Era unicamente de Israel.
Isto é um contraste surpreendente com o Grego, o idioma do Novo Testamento, que
era o idioma de comércio do mundo romano. Então, os próprios idiomas do Antigo
e do Novo Testamentos sinalizam a diferença de missões. O hebraico não era
apropriado para missões no mundo antigo. O grego era perfeitamente apropriado
para missões no mundo romano.
11 - O apóstolo Paulo nos dá um exemplo do quão
cauteloso ele era para não dar a impressão de que estava no ministério por
dinheiro. Ele disse que os ministros da palavra têm o direito de viver do
ministério. Mas então, para mostrar-nos o perigo nisso, ele se recusa a usar
plenamente esse direito.
“Na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi,
quando pisa o trigo. [...] Certo que é por nós que está escrito; pois o que
lavra cumpre fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo faça-o na esperança de
receber a parte que lhe é devida. Se nós
vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens
materiais? Se outros participam desse direito sobre vós, não o temos nós em
maior medida? Entretanto, não usamos desse direito; antes, suportamos tudo, para não criarmos qualquer obstáculo ao
evangelho de Cristo.” (1Coríntios 9:9-12)
Em outras palavras, ele renunciou a um direito legítimo
justamente para não dar a ninguém a impressão de que o dinheiro era a motivação
de seu ministério. Ele não queria dinheiro de seus neófitos: “Nunca usamos de
linguagem de bajulação, como sabeis, nem de intuitos gananciosos. Deus disto é
testemunha” (1Tessalonicenses 2:5).
Ele preferia trabalhar com suas mãos ao invés de dar a
impressão de que estava mercadejando o evangelho: “De ninguém cobicei prata,
nem ouro, nem vestes; vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para o que me
era necessário a mim e aos que estavam comigo. Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os
necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais
bem-aventurado é dar que receber” (Atos 20:33-35).
Ele sabia que havia mercadores da palavra de Deus que
pensavam que “a piedade é fonte de lucro” (1Timóteo 6:5-6). Mas ele se recusava
a fazer qualquer coisa que o pusesse naquela categoria: “Nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus;
antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte
do próprio Deus” (2Coríntios 2:17).
Muitíssimos pregadores da
prosperidade não apenas dão a impressão de que estão “mercadejando a palavra de
Deus” e fazem da “piedade uma fonte de lucro”, mas realmente desenvolvem uma
teologia fictícia para justificar suas extravagantes exibições de riqueza.
Paulo fez exatamente o oposto.
12 - Minha
maior preocupação a respeito dos efeitos do movimento da prosperidade é que ele
deprecia a Cristo fazendo-O menos central e menos satisfatório que Seus
presentes. Cristo não é mais exaltado por ser o provedor de riquezas. Ele é
mais exaltado por satisfazer a alma daqueles que se sacrificam para amar os
outros no ministério do evangelho.
Quando recomendamos Cristo como àquele que nos torna ricos,
nós glorificamos as riquezas, e Cristo se torna um meio para o fim que
realmente queremos — a saber, saúde, riqueza e prosperidade. Mas quando
recomendamos Cristo como aquele que satisfaz nossa alma para sempre — mesmo
quando não há saúde, riqueza e prosperidade — então Cristo é exaltado como mais
precioso que todos aqueles presentes.
Vemos isso em Filipenses 1:20-21. Paulo diz: “É minha
ardente expectativa e esperança de que [...] será Cristo engrandecido no meu
corpo, quer pela vida, quer pela morte. Porquanto,
para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro.” A honra a Cristo acontece
quando nós o valorizamos tanto que morrer é lucro. Porque morrer significa “partir e estar com Cristo” (Filipenses
1:23).
Esta é a observação que falta na pregação da prosperidade. O Novo Testamento aponta para a glória de
Cristo, não para a glória de Seus presentes. Para deixar isso claro, ele
coloca toda a vida cristã abaixo do estandarte da alegre abnegação. “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo
se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Marcos 8:34). “Estou crucificado com Cristo” (Gálatas 2:19).
Mas, apesar de a abnegação ser uma estrada difícil que leva
à vida (Mateus 7:14), é a mais alegre de todas as estradas. “O reino dos céus é
semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado,
escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra
aquele campo” (Mateus 13:44). Jesus diz que encontrar Cristo como nosso tesouro
torna todas as outras posses alegremente dispensáveis. “Transbordante de
alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo.”
Eu não quero que os pregadores da prosperidade parem de
chamar as pessoas à alegria máxima. Pelo contrário, eu suplico a eles que parem
de encorajar as pessoas a buscarem sua alegria nas coisas materiais. A alegria
que Cristo oferece é tão grande e tão durável que nos habilita a perder a
prosperidade e ainda assim regozijar. “Vós aceitastes com alegria o espólio dos
vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e
durável” (Hebreus 10:34). A graça de ser alegre na perda de prosperidade — este
é o milagre que os pregadores da prosperidade deveriam buscar. Este seria o sal
da terra e a luz do mundo. Isto exaltaria a Cristo como extremamente valioso.