Por Richard
M. Ryan e S. William Ryan
Richard M. Ryan é
professor de psicologia, psiquiatria e educação da Universidade de Rochester.
William S. Ryan é estudante de doutorado em psicologia na Universidade da
Califórnia, Santa Barbara.
Publicado em 27 abril de 2012 no "The New York
Times".
Por que são as figuras políticas e religiosas que fazem
campanha contra os direitos dos homossexuais muitas vezes as mais envolvidas em
escândalos sexuais com parceiros do mesmo sexo?
Nos últimos anos, Ted Haggard, um líder evangélico que
pregava que a homossexualidade é um pecado, pediu demissão após o escândalo
envolvendo um ex-garoto de programa; Larry Craig, senador dos Estados Unidos
que se opôs à inclusão da homofobia nas leis de crimes de ódio, foi preso sob
suspeita de conduta lasciva em um banheiro masculino; e Glenn Murphy Jr., um
dos líderes do 'Young Republican National Convention' e oponente do casamento
gay, se declarou culpado de abuso sexual na acusação promovida por outro homem.
Há uma teoria que diz que desejos homossexuais reprimidos
por vergonha ou medo podem ser manifestados através da homofobia. Freud
notoriamente chamou esse processo de "formação reativa" - a batalha
da raiva contra a externação dos sentimentos que são interiormente sufocados.
Mesmo Haggard pareceu endossar essa ideia quando, ao se desculpar após o
escândalo por sua retórica antigay, ele disse: "Acho que parte disso se
deve a minha própria guerra."
É uma teoria convincente - e agora há razão científica para
acreditar nela. Na edição de abril de 2012 do Jornal da Personalidade e
Psicologia Social [Journal of Personality and Social Psychology], pesquisadores
forneceram evidências empíricas de que a homofobia pode resultar, pelo menos em
parte, da repressão do desejo pelo mesmo sexo.
O trabalho descreve seis estudos realizados nos Estados
Unidos e na Alemanha envolvendo 784 estudantes universitários. Os participantes
classificaram sua orientação sexual numa escala de zero a dez pontos entre gay
e hétero. Em seguida, eles passaram por um teste monitorado por computador,
projetados para medir a orientação sexual 'implícita'. Aos participantes foram
mostradas imagens e palavras indicativas do status "hetero" e
"gay" (fotos de casais heterossexuais e do mesmo sexo, palavras como
"homossexual" e "gay") e foram instados a ordená-las na
categoria apropriada ("gay" ou "hétero"), o mais rápido possível.
O computador media o tempo de reação de cada um.
Antes de cada palavra e imagem aparecer, a palavra
"eu" ou "outro" piscava na tela por 35 milésimos de segundo
- o bastante para que os participantes subliminarmente as processassem, mas um
tempo suficientemente curto para que não pudessem vê-las conscientemente. A
teoria, conhecida como associação semântica, explica que o tempo que se leva
para correlacionar palavras às imagens é indicativo da orientação sexual
'implícita'. Ou seja, quando "eu" antecede palavras ou imagens que
refletem a orientação sexual do sujeito (por exemplo, imagens heterossexuais
para uma pessoa hétero), ele classifica as imagens/palavras na categoria
correta num espaço de tempo mais curto. De modo contrário, quando "eu”
precede palavras/imagens incongruentes com a sua orientação sexual (por
exemplo, imagens gays para uma pessoa hétero), o indivíduo tende a demorar
mais. Esta técnica, adaptada de testes utilizados para avaliar atitudes
preconceituosas como a discriminação racial subconsciente, de forma confiável
distingue as pessoas que se autoidentificam héteros e gays, lésbicas ou
bissexuais.
Ao usar essa metodologia, fomos capazes de reconhecer um
subgrupo de participantes que, apesar de se autoidentificar altamente hétero,
indicou algum nível de atração por pessoas do mesmo sexo - eles associaram
"eu" a palavras e imagens gays mais rápido do que associaram
"eu" a palavras/imagens heterossexuais. Mais de 20 por cento dos
estudantes que se descreveram altamente héteros mostraram essa discrepância.
Curiosamente, esses participantes "divergentes"
também se mostraram significativamente mais propensos e favoráveis a políticas
antigays que os demais; dispostos a atribuir punições mais severas para crimes
menores se os autores forem homossexuais e a expressar mais hostilidade
implícita aos gays. A pesquisa, enfim, sugere que algumas das pessoas que se
opõem à homossexualidade tacitamente abrigam em si uma atração pelo mesmo sexo.
O que leva a essa repressão? Descobrimos que os participantes
que relataram ter apoio e aceitação dos pais tinham mais contato com sua
orientação sexual implícita e estavam menos suscetíveis à homofobia. Indivíduos
cuja identidade sexual estava em desacordo com a atração sexual implícita, eram
mais frequentemente criados por pais controladores, menos tolerantes e mais
preconceituosos contra os homossexuais.
É importante ressaltar o óbvio: nem todos os que fazem
campanha contra gays e lésbicas sentem secretamente atração pelo mesmo sexo.
Mas é provável que algumas dessas pessoas lutem contra uma parte de si, sendo
elas próprias vítimas da opressão e da intolerância. O preço é alto, não só
para aqueles que são alvo dos esforços discriminatórios, mas, muitas vezes
também, para os autores. Faz bem lembrar que todos os envolvidos merecem a
nossa compaixão.
Postado por Edinêr