RICOS E MILIONÁRIOS PARA A GLÓRIA DE DEUS?
Preciso confessar minha intolerância religiosa e
politicamente incorreta. Sim! Porque se não confessá-la, neste momento e canal,
estarei negligenciando historicamente tudo o que creio segundo a simplicidade
do que se aprende pela verdade, transparência e honestidade em Jesus e também
do que estou convencido ser meu compromisso profético de denunciar o engano.
É a mesma intolerância que motivou o Senhor a chamar alguns
religiosos de seu tempo de "raça de víboras", "sepulturas
pintadas" e "lobos enganadores". Este é o zelo pela verdade a
ponto de virar a mesa dos cambistas do templo e chamá-los publicamente de
ladrões e salteadores. Não eram simples religiosos, eram aqueles que ditavam as
regras no seu tempo, jogavam as cartas do jogo de dominação e manipulação do
povo, assentavam-se nos primeiros lugares da sinagoga/templo, homens cuja
"santidade" e "poder de Deus" eram medidos/avaliados somente
pela aparência, externamente, pelo tamanho dos filactérios e franjas das roupas
que usavam; eram aqueles que gostavam de orar em pé durante os cultos para
serem vistos e admirados pelos outros homens ou para demonstrar um poder que
julgavam ter [e não tinham].
Sem rodízios, apesar das duras palavras, mas em profundo
amor, Jesus denunciava o pecado fosse ele institucional ou pessoal; olhando nos
olhos de quem quer que fosse, desmascarava o que ele sabia ser a perversão da
vida e do convite amoroso de Deus no encontro com o homem.
Esta semana vi escrito em um outdoor de uma grande e famosa
igreja do Rio de Janeiro a frase: "Deus está levantando ricos e
milionários para a Sua Glória. (...) Venha ser um deles",
havia também, estampada, a foto do pastor... (Ops!) eu disse pastor? Desculpe!
Agora ele foi consagrado a apóstolo...
Pois, é! Não vou discutir a apostolicidade do nosso irmão,
mas meu lamento e espanto, semelhante ao do apóstolo Paulo na carta aos
Gálatas, quando ele diz: "Admira-me que estejais passando tão depressa
daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho..." é
perceber como uma grande parcela dos pastores/religiosos hoje estão cedendo à
tentação de transformarem as pedras em pães, jogarem-se dos pináculos de seus templos
midiáticos e se ajoelharem diante da "grandeza" e da Prosperidade
para conquistarem a glória das cidades e reinos deste mundo.
Oro sinceramente para que ele e todos estes sacerdotes,
profetas, missionários e apóstolos tenham tempo de se arrepender e crer no
Evangelho simples de Jesus, a fim de encontrarem misericórdia e também [se
possível] ensinar o caminho de volta aos seus discípulos, mas não posso ficar
calado.
Deus não precisa fazer alguém rico ou milionário para ser
glorificado, servido ou conquistar a terra. Já cantava inspiradamente o poeta:
"a sabedoria mora com gente humilde (...)", mas quem consegue
discernir este tempo sabe que o engano já se instalou no coração e esfriou o
amor de quase todos. A proposta daquele outdoor pareceu-me não somente absurda
e mentirosa, mas revela a grande iniquidade e potestade camuflada de piedade e
"bênção". Erra não só quem faz o convite para participar dos cultos a
Mamom, mas também quem o cultua, serve-o com seus dízimos e ofertas e sobe as
escadas dos pináculos atrás de seus líderes e guias espirituais na intenção de
receber a mesma glória e poder deste mundo.
Sinto profundo constrangimento por esta geração perversa que
só consegue ver "Deus" na riqueza e na troca, na barganha, na compra
da "bênção". Este "Deus" não é o meu Deus, não creio em um
"Deus" que apenas seja Deus se for servido por ricos e milionários.
Não creio em um "Deus" que expressa sua glória somente para aqueles
que podem pagar por ela.
Eu creio no Deus que se fez carne, que ao contrário do
desejo de alcançar a glória para cima, pelo domínio, através da glória dos
homens e do mundo, preferiu o caminho inverso e se rebaixou até se confessar
como servo humilde.
Os que vivem de fato para a glória de Deus podem até possuir
algum bem (ou bens) neste mundo, podem por acaso ser chamados de ricos,
milionários, mas seu coração certamente não estará no acúmulo de tesouros,
muito menos no prazer de serem considerados como tais. Os que vivem e expressam
a glória de Deus são os simples, os misericordiosos, os limpos de coração;
aqueles que mesmo não possuindo prata nem ouro sabem expressar o bem e a glória
de amar a Deus não pelo que Ele pode dar, mas pelo Dom da vida em abundância
vivida gratuitamente.
Lúcifer foi contaminado pelo brilho e ganância do seu
próprio comércio, aliás este foi um dos motivos de sua queda. A avareza que
derruba querubins facilmente derruba apóstolos e patriarcas, ainda nos dias de
hoje. A denúncia que o apóstolo Pedro fez em sua comunidade neotestamentária é
atual e verdadeira: "Assim como, no meio do povo, surgiram falsos
profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão,
dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano
Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.
E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa
deles, será infamado o caminho da verdade; também, movidos por avareza, FARÃO
COMÉRCIO DE VÓS, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo
tempo não tarda, e a sua destruição não dorme." (2 Pedro 2.1-2)
Ainda dá tempo de voltar ao caminho da cruz e do
arrependimento. Quem tem ouvidos para ouvir?
O Deus que é glorificado sem som e sem palavras pela obra de
suas mãos te abençoe rica, poderosa e sobrenaturalmente!